Em 2011 realizei uma entrevista com o Dr. Hugo - médico que diagnosticou a DC em minha filha no ano de 2009.
Doutor
Hugo Lacerda Werneck Junior, médico associado do Colégio Brasileiro de
Cirurgiões e especialista em
gastroenterologia pela Federação Brasileira de Gastroenterologia.
Dr. Hugo, já ouvimos falar que a DC pode
apresentar-se num indivíduo sem que necessariamente tenha hereditariedade. Isto
é possível?
Não.
Todos os pacientes celíacos carregam consigo a alteração genética da doença
celíaca (HLA-DQ2 ou HLA-DQ8). Virtualmente todas as pessoas que não
possuem esses genes não desenvolverão a
doença.
Porque
alguns celíacos são mais sensíveis do que outros?
Como em qualquer doença, a
intensidade da inflamação ou alteração varia enormemente de pessoa para pessoa.
Isto é, a mesma doença pode atingir várias pessoas de forma diferente e
intensidade variável. Além disso, existe a
sensibilidade individual que é um dado subjetivo e difícil de avaliar.
Após o
diagnóstico da doença celíaca, qual profissional é aconselhável a procurar para
iniciar o segmento da dieta?
A
doença celíaca é acompanhada por um gastroenterologista e por um nutricionista.
O primeiro vai corrigir as deficiências nutricionais adquiridas e solicitar
exames regularmente e o segundo vai orientar a dieta, que é a chave do
tratamento.
Suplementos para recuperar a mucosa e flora
intestinal são indicados para os recém diagnosticados?
A
mucosa começa a se regenerar assim que se retira o glúten da dieta. Com a
normalização da mucosa a absorção vai voltando ao normal. É um processo lento e
espontâneo. Só indicamos suplementos para corrigir deficiências nutricionais,
como cálcio, ferro,etc.
A DC tem alguma relação com hérnia umbilical e trombose?
Não
existe relação entre hérnia umbilical ou trombose e doença celíaca.
A
doença celíaca tem correlação com a tireoidite de Hashimoto e síndrome de
Noonan. Além destas já descritas, quais outras doenças autoimunes a DC se
relaciona?
Existe uma associação
estatística da doença celíaca com o diabetes tipo I e a síndrome de Down.
Uma mãe celíaca com filho menor de 1 ano de idade
deve introduzir o glúten na vida do bebê com quantos meses? É aconselhável
fazer algum exame para saber se o filho é celíaco ainda quando bebê? Se
positivo, quais os exames?
A
dieta normal deve ser introduzida a partir dos seis meses. A princípio, não é
necessário fazer nenhum exame a menos que a criança apresente algum déficit no
crescimento ou algum sintoma que chame a atenção. A partir dos cinco anos de
idade pode-se pesquisar o anticorpo anti-endomísio (ou anti-transglutaminase)
a cada cinco anos. Se positivo indica-se a endoscopia digestiva com biópsia.
Fala-se em testes de vacinas para DC. Qual a sua opinião
a respeito?
A
curto prazo não existe nenhuma possibilidade de termos uma vacina, mas
futuramente é possível. Acredito que seja uma alternativa viável no futuro.
No Brasil, quanto tempo em média demora-se para se
detectar a DC?
Em
geral existe uma demora considerável até chegar-se ao diagnóstico da doença
celíaca. Calcula-se que este tempo pode variar de 5 a 8 anos (nos adultos).
Porém esta é uma constatação encontrada também nos Estados Unidos e países da
Europa. Com a maior conscientização da classe médica e da população sobre a
doença, a tendência é que esse intervalo diminua consideravelmente.
Existe uma estimativa de quantos celíacos há hoje
no Brasil?
Não
existe estudo preciso, mas há estimativas que aqui no Brasil a doença acometa
um em cada 300 ou 500 indivíduos.
Mesmo seguindo a dieta sem glúten o indivíduo pode
ter problemas relacionados a outras doenças, tais como: hipoplasia de esmalte
dental?
A
resposta à dieta sem glúten é individualizada. Cada indivíduo tem o seu grau de
acometimento da mucosa e a sua velocidade de resposta. Não existe um padrão
rígido. Infelizmente, existem até aqueles que não apresentam melhora clínica
mesmo após aderir à dieta.
Entrevista por: Erivane de Alencar Moreno
Consultório: Av. Indianópolis, 2.321 - Moema São Paulo - SP
Fone: (11) 5078-7776 ou 2275-7690
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